Paleografia, do grego paleos (antiga) + graphein (escrita) foi conceituada de diferentes formas por distintos autores ao longo de sua história, permeando sua definição entre ciência e técnica. Como sistematiza Ana Berwanger e Franklin Leal (2012, p. 14-16), em seu manual introdutório: Jesus Munoz y Rivero define-a como: “a ciência da decifração dos manuscritos, tendo em consideração as vicissitudes sofridas pela escrita em todos os séculos e nações", Ubirajara Dolácio Mendes como "a arte de ler documentos antigos” e Van Den Besselaar como "o estudo metódico de textos antigos quanto à sua forma exterior".

A Paleografia abrange a história da escrita, da evolução das letras, bem como dos instrumentos para escrevê-la, podendo ser considerada arte ou ciência, sendo ciência na parte teórica e arte na aplicação prática, porém, acima de tudo, é uma técnica aprimoradora. Abreviações, letras irreconhecíveis, sinais taquigráficos e pedaços perdidos por agentes externos (água, fungos, insetos) são partes do seu cotidiano e é preciso muito mais que habilidade – e um magnífico dicionário de abreviaturas da Maria Helena Flexor – para compreender o que olhos adventícios não enxergam.

Em vários casos é imprescindível que se pensem os documentos no ambiente em que foram escritos, abstraindo a envolta realidade e buscando aprofundar-se naquele momento em que a pena percorre o papel, molha-se no tinteiro e é pressionada com força arbitrária pelo algoz autor, e, por vezes, perdoá-lo pelo cansaço da mão que torna sua letra ainda mais incompreensível.

Paleografar o documento é mais que uma atividade técnica, é uma inquisição ao passado pelas fontes documentais, averiguando o que está presente em seu corpo e, acima de tudo, o que está implícito e marginalizado. Nesse sentido, a expansão da técnica paleográfica para outras academias e comunidades é condição "sine qua non" para o desenvolvimento da operação historiográfica, uma vez que a História se move através da problematização de documentos (PROST, 2008)